ATAQUES DE PÂNICO | POR NUNO AUGUSTO, PSICÓLOGO

“TIVE UMA SENSAÇÃO DE MORTE!”

… subitamente o meu coração disparou, não me encontrava em nenhuma situação de perigo que me levasse a ter tais sensações. Passei a ser invadido por um sentimento de medo desmedido de voltar a sentir os mesmos sintomas. O primeiro acontecimento foi traumatizante.

A novidade do incidente, reside no seu aumento e gravidade. A sensação voltou a repetir-se, tornando-se inesperada e recorrente. Consiste em períodos de intensa ansiedade e são acompanhados de alguns sintomas específicos: parecia que o coração saltava pela boca. Passei a ter dificuldade na gestão emocional do medo/ansiedade, passando a evitar situações, circunstâncias em que eventualmente, ocorreu a primeira situação.

Se estas descrições se aplicam a si, então poderá estar a sofrer de Perturbação de Pânico e Agorafobia.

Afinal de contas, o que são ataques de pânico? Foi esta questão que colocamos ao Psicólogo Nuno Augusto.

 ATAQUES DE PÂNICO, POR NUNO AUGUSTO, PSICÓLOGO

Tem acessos de medo que o fazem pensar que está doente, a morrer, ou a enlouquecer? Quando estes sentimentos de pânico acontecem, sente como se o coração fosse explodir do seu peito, ou como se não conseguisse respirar o suficiente? Ou talvez sinta tonturas, fraqueza, tremores, suores, falta de ar, ou simplesmente terror. Será que os sentimentos por vezes surgem do nada, quando menos espera? Existe preocupação sobre quando se irão repetir?

Estes sentimentos interferem com a sua rotina diária ou impossibilitam-no de fazer coisas que normalmente faria?

Se estas descrições se aplicam a si, então poderá estar a sofrer de Perturbação de Pânico e Agorafobia. As principais características da Perturbação de Pânico são: (1) um ou mais episódios abruptos, de medo intenso ou desconforto (ou seja, um ataque de pânico); e (2) ansiedade persistente ou preocupação com a repetição de ataques de pânico, as suas consequências, ou mudanças de vida como resultado dos ataques. A Agorafobia refere-se à ansiedade sobre, ou evitamento de situações onde os ataques de pânico ou outros sintomas físicos são expectáveis.

Os ataques de pânico podem ser descritos como episódios repentinos e intensos, que alcançam um pico em minutos, e durante os quais ocorrem 4 ou mais sintomas físicos e/ou cognitivos, da seguinte lista de 13 possíveis:

  1. Palpitações, coração acelerado, taquicardia
  2. Sudorese
  3. Tremores ou abalos
  4. Sensações de falta de ar ou sufocamento
  5. Sensações de asfixia
  6. Dor ou desconforto torácico
  7. Náusea ou desconforto abdominal
  8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio
  9. Calafrios ou ondas de calor
  10. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento)
  11. Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo)
  12. Medo de perder o controlo ou “enlouquecer”
  13. Medo de morrer

Os ataques de pânico podem ser esperados ou inesperados, dependendo se existem, ou não, indícios ou desencadeantes óbvios no momento da ocorrência. A incerteza sobre quando poderá surgir um novo ataque de pânico, faz com que a pessoa evite, hesite ou se sinta ansioso. Tipicamente, estas situações são aquelas em que poderá ser difícil escapar ou encontrar ajuda. Um exemplo comum é estar dentro de um centro comercial cheio de pessoas, onde pode ser difícil encontrar a saída e ter de passar por todos, caso tenha de sair de repente devido a um ataque de pânico.

NOTA: Evitar situações por medo, quando não existe perigo real, designa-se fobia. Evitar situações das quais a fuga pode ser difícil ou onde a ajuda pode não estar disponível no caso de um ataque de pânico ou outros sintomas físicos, denomina-se agorafobia.

Como aprender a lidar com a ansiedade?

  1. Aceite a sua ansiedade. É importante identificar o que está a sentir, as sensações que surgem no seu corpo, sem resistir ou negá-las, procurando, deste modo, evitar prolongar e intensificar o seu desconforto.
  2. Seja o observador do seu corpo. Sem realizar qualquer tipo de julgamento ou autocritica, permita acontecer o que o seu corpo sinta que seja necessário.
  3. Fique onde está. Se procurar fugir, a sua ansiedade poderá diminuir, mas o seu medo vai aumentar.
  4. Respire devagar e de forma consciente. Controle o ritmo ideal da sua respiração. Inspire, lenta e profundamente pelo nariz, conserve o ar durante 4 segundos, e expire suavemente pela boca. Repita este processo, procurando reduzir significativamente as sensações desconfortáveis de uma crise de ansiedade.
  5. Lembre-se que apesar de desconfortável e desagradável, não é algo perigoso, apenas está ansioso(a).
  6. Reflita e examine os seus pensamentos. Quais são os pensamentos que surgem automaticamente, questione-se sobre a sua veracidade, que alternativas positivas existem.
  7. Tente distrair-se, pensando em algo diferente ou realizando tarefas que possibilitem alterar o foco da situação.
  8. Não efetue sobredosagem de medicação e evite o consumo de substâncias como o álcool, como recurso para ultrapassar as situações que receia.
  9. Valorize-se enquanto pessoa, aceitando-se e priorizando-se. Não há problema em dizer ‘não’ aos outros, não tem de controlar tudo, nem ser sempre competente.
  10. Compreenda que a ansiedade é necessária e faz parte da vida. O objetivo é saber geri-la, para quando ocorrer estar em melhor posição para lidar com ela.

Contudo, é fundamental frisar que caso se identifique com este quadro sintomatológico, deverá procurar ajuda profissional especializada. Não têm de viver com o pânico.

Crédito Fotográfico: Pedro Bonnet

CONTACTO: Dr. NUNO AUGUSTO

Telefone: 918 908 825

Referências bibliográficas

American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). Washington, DC: Author.

Barlow, D. H., & Craske, M. G. (2007). Mastery of Your Anxiety and Panic (4th ed.). New York: Oxford University Press, Inc.

Pombo, S. & Ferro, A. (2016) Manual psicoeducativo sobre ansiedade e perturbação de pânico. Edição Bial.