NUNO GAMA MODA LISBOA 2018|“DO ARROJO NASCE A EXCELÊNCIA!”

Pinturas e esculturas de Nuno Gama

A celebrar ¼ de século de carreira, Nuno Gama marcou a 51.ª edição da Modalisboa com “Exposição Humana”. Foi o momento alto deste segundo dia da Modalisboa/2018. Encontramos, espalhados pelas salas do terceiro piso do Museu de Arte Antiga onde estão os painéis de São Vicente de Fora, modelos estáticos sentados nos parapeitos ou de pé, como se fossem estátuas a transpirarem sensualidade, energia masculina, virilidade, como é característica do designer de moda.

Nuno Gama, fiel à sua estética naturalmente discreta e arrojada, olha, como sempre, para a História de Portugal, buscando referências e asseverando a portugalidade nas suas criações. Particularidade que é já seu apanágio e que confere identidade portuguesa às suas criações. A inspiração nasce e não se perde e aí está a sua coleção primavera-verão 2019. 

Formas esculpidas, masculinas e sensuais, aliadas a estética trabalhada pelo estilista, acentuam o seu trabalho e trazem uma aura de virilidade e beleza, evocando as qualidades do homem contemporâneo.

O repto ao Museu Nacional de Arte Antiga para acolher a apresentação da coleção “Porto Graal” como obra de arte, inspirado em Portugal, nas culturas, tradições, nos atos históricos da época dos descobrimentos, põe a descoberto ainda mais esse seu carisma. Gera energia, dando-lhes vida, conferindo conforto visual!

Quando todos nós nos questionávamos de que forma Nuno Gama nos surpreenderia na 51.ª edição de Moda Lisboa, eis que todos os presentes viveram uma experiência única. Tiveram a oportunidade de ver uma coleção mais próxima, observar as particularidades e as texturas.

Esta possibilidade de aproximação entre as peças de vestuário, as pessoas e os manequins, parados, tranquilos, junto aos quadros e estátuas, quebrou barreiras e permitiu o toque, a observação, a alteração de papéis. Desta vez, o público presente foi convidado a desfilar pelos corredores do museu. A ideia não foi pôr as pessoas a verem as criações sentadas, a apreciarem os manequins a desfilarem, a passarem uns atrás dos outros, mas, sim caminharem, observarem, tocarem, conviverem, trocarem opiniões, terem uma relação mais próxima com as peças de roupa. Observarem os detalhes. Numa passerelle as coisas são bem diferentes, os modelos passam tão rápido, que não há tempo para sentir o toque, a leveza, a matéria-prima.

O certo é que, quando nos preparamos para assistir à Moda Lisboa, ficamos sempre na expectativa de como o estilista Nuno Gama vai apresentar a sua coleção. É sempre diferente dos outros. Agrada-nos toda a encenação que está por trás!

Muito mais que peças de roupa, que é a visão mais simplista de um desfile de moda, é a mise-en-scène que está ao redor, que envolve as suas coleções, que, neste caso concreto, foi a mudança de cenários, a alteração dos papéis que atraiu, e brindou os presentes: não se trata de mais um desfile, mas antes de uma exposição humana, do curador/designer de moda Nuno Gama. Os manequins permaneceram nas suas posições como autênticas obras de arte, lado a lado com outras obras de arte, espólio do MNAA, obra maior da produção artística nacional, que são fontes de inspiração de Nuno Gama, e foi o público que circulou à volta deles. Este conceito é muito interessante: o estilista juntou muito bem as duas coisas. A moda é arte, é cultura, adaptando a moda a um espaço que mostra arte estática de outros tempos.

As suas criações são de tal forma abertas, uma espécie de fenómeno social, que todos aqueles que assistem às apresentações das suas coleções, reconhecem-se, pelo menos um pouco, porque encontram parte da sua identidade nos fatos históricos. É isso que tem acontecido nos últimos anos, cada um dos espectadores sai das apresentações capaz de falar sobre os elementos de ligação distintos com a realidade histórica de Portugal.

Esta subtil simbiose é o resultado da vontade do criador de expressar o requinte e a excelência nas suas criações, visível em todos os momentos, até nos bastidores.

NOS BASTIDORES ONDE TUDO ACONTECE!

Há um trabalho incansável que antecede a apresentação das coleções. Lá dentro, nos bastidores de Nuno Gama, o ritmo foi assim: vestem-se manequins, penteiam-se cabelos e retocam-se maquilhagens.

Convido-os a entrar no backstage improvisado que transformou a biblioteca do Museu Nacional de Arte Antiga, num camarim do maior evento de moda nacional.

Nuno Gama e a sua equipa permaneciam à volta dos detalhes. Retoques de última hora. Peças de roupa organizadas, cabides com os nomes e medidas de cada manequim. Há sempre algo a ajustar nas peças de vestuário até à hora dos modelos iniciarem a apresentação.

Tudo foi ensaiado, preparado com a maior dedicação, e nós comprovámos e acompanhámos o estilista na estreia da sua nova coleção, que aconteceu no segundo dia da Moda Lisboa.

Registamos e reunimos algumas imagens captadas pela lente e sensibilidade do fotógrafo João Ramos, antes da apresentação pública. Dê aqui uma espreitadela e fique a conhecer como é este mundo da moda de Nuno Gama, por dentro.  

É uma coleção identitária: a conjugação plástica (as obras de arte do Museu de Arte Antiga), a estética e a identidade portuguesa fazem sentido em relação à escolha do local para a “exposição humana” de Nuno Gama. Exposição humana que permitiu que se desse mais atenção, não só ao espólio do MNAA, como às peças de vestuário do designer de moda.

A coleção de verão mostra o poder da sedução no masculino, divide-se entre vestuário formal e um mais cool e revela, desde o primeiro olhar, as suas linhas contrastantes e as características do seu espírito visionário: autenticidade, intuição e criatividade.

No pódio desta coleção, que jogou com vários elementos, além da moda underwear, com os manequins só de calções e meias, tivemos também a moda swimwear, as sungas, as túnicas, os calções e blusões em caqui, blazers com calções, t-shirts com pássaros e os looks com trench coat que fizeram sucesso.

Fatos dourados e vermelhos, os smokings, um clássico que apresentou também, e fatos com calças mais curtas.

Eis as propostas para homem, primavera-verão 2019, que enaltecem a figura masculina.

No rescaldo desta apresentação, surge este artigo. Reservei-o para que fosse um dos últimos, deste ano, a ser publicado no blogue para provar que, apesar da apresentação desta colecção ter acontecido a 12 de outubro, “a inspiração nasceu e não se perdeu no tempo”. O sentido de observação do que se passa no mundo, em Portugal, na História e em qualquer momento… até este agora, está sempre presente!

Agradecimento:

Crédito ?: João Ramos.