Em 2017 publiquei um post no blog “A Boa Vida Persegue-me” sobre o Lisboa Design Show, LXD África Fashion By LXD 2017, onde apontava algumas características deste certame, que muito me agradaram. Destaco a participação de mais de 20 estilistas africanos, oriundos de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Congo. Com apresentações diferentes, cheias de atitude e emoção, unindo criatividade e espiritualidade, trouxeram para a FIL produções contemporâneas e o conceito de roupa “para pessoas comuns”! Um evento diferente, que marcou 2017, ao associar ao evento o conceito “See Now, Buy Now – Veja Agora, Compre Agora”, com a instalação de pop up stores, com as peças apresentadas pelos estilistas, no espaço contíguo aos desfiles.
A ideia de democratizar o acesso às novas tendências foi um sucesso e a equipa do Blog “A Boa Vida Persegue-me” andou por lá, conversou, privou com os estilistas, apreciou e fez as suas escolhas.
Este ano, a convite do designer Momade Amade, o Blog esteve novamente presente na FIL – Feira Internacional de Lisboa, para assistir no dia 6, ao “AFRICA FASHION”. Uma área de exposição e de desfiles de moda, com o objetivo de promover e divulgar a moda africana a nível nacional e internacional.
Não participámos nos desfiles, como em 2017, mas estivemos presentes neste encontro multidisciplinar, que aconteceu de 3 a 7 de outubro, promovendo o design e comemorando as artes através da música, da moda, do artesanato, valorizando o trabalho feito à mão, mas também conversas temáticas, workshops, Talks LXD e, sobretudo, muito apreciamos o que de bom se faz por Portugal.
TALKS LXD – MODA E COMUNIDADE
No Auditório Design do Lisboa Design Show – FIL, sob a organização e moderação de Sona Fati, tendo como oradoras Roselyn Silva – Estilista; Ana Fernandes – Presidente da Associação Art4life e Andreia Oliveira – representante do Movimento FAZ, mulheres de causas falaram sobre Moda e Comunidade. Importava dar a conhecer o lado humano da indústria da moda, de que forma a moda tem contribuído para o empoderamento das comunidades. “Escolhi este tema porque acredito que a moda tem gerado benefícios para muitas comunidades e suas gentes. A moda tem mostrado o seu lado humano” – referiu Sona Fati.
Uma iniciativa onde se partilhou olhos-nos-olhos, experiências, vivências, histórias de vida singulares, moda e ideias.
OS DESIGNERS
Inspirados na trajetória do movimento Black Power, os designers Momade Amade e Marc Bell apresentaram as suas novas criações. Um encontro com as raízes, com a identidade dos criadores, e porque não dizer, um instrumento de afirmação.
O movimento Black Power, além de inspirador, foi e é um símbolo que transcende as fronteiras da beleza e significa o resultado do trabalho persistente dos seus precedentes e também a firmeza em manter viva a identidade de quem batalhou pelos seus direitos.
A trajetória do movimento Black Power, a arte e a beleza africana, que sempre estiveram presentes no campo das artes, estilos reconhecidos na música, como jazz, e/ou blues, na literatura, no cinema e na moda são exemplos desta presença. Além de brindar o público com seu talento, estes artistas são responsáveis pela afirmação da estética afro, aqui, agora e amanhã.
MOMS AMADE
Momade Amade, designer moçambicano, a viver em Portugal há cerca de 10 anos, representa a marca Moms Amade. Neste evento apresentou um pouco daquilo que cria – desde acessórios, calçado feito em capulana e pele, entre algumas novidades como babetes para recém-nascidos, feitos em capulana e, t-shirts com estampado em capulana. Cada peça mostra de forma peculiar a sua inspiração.
“Este ano apresentei acessórios de moda, novidades em malas que se transformam em mochila a tiracolo de vários tamanhos, apostei, também, em utilizar o acrílico, pele e madeira. Calçados em capulana, e pele, babetes em capulana para recém-nascidos. Esta coleção não teve um tema em especial, a nível de roupa trouxe novidades em t-shirts com estampado em capulana”. Afirma Momade Amade.
Questionado sobre o evento, afirma: “Acho que o evento não correu muito bem. Não trouxe tanta gente como se esperava e as vendas não foram nada de especial pelo investimento que é feito. O conceito é bonito, mas no caso do “África Fashion”, a organização aposta mais nos Designers do exterior, que não conhecem o mercado português, porém, veem o evento como uma oportunidade para entrar no mercado europeu. No final do evento, acabam por ficar desiludidos com os resultados, a maior parte não volta no ano seguinte. Acho que o facto de não facilitarem os Designers locais faz com que não haja interesse por parte do público local que acompanha a moda dos criadores africanos residentes. Não se percebe porque este ano só esteve presente um único criador residente, neste caso concreto, eu! Nenhum mais mostrou interesse, portanto alguma coisa está a falhar”. Completa o Designer.
MARC BELL – ETHNIC REVIVAL
O Designer Marc Bell é filho de pais oriundos da República dos Camarões, mas nasceu em Paris, onde vive. Detalhe que o faz sentir-se “cidadão do mundo”!
Na FIL – Feira Internacional de Lisboa, numa parceria com o Designer Momade Amade, participou pela primeira no LXD, dividindo a mesma pop up store, no âmbito do conceito “See Now, Buy Now – Veja Agora, Compre Agora”, com as peças apresentadas no desfile.
A moda sempre encontrou formas para passar mensagens, impulsionada pela perceção de é um processo de comunicação, que reflete a estrutura de identidades e culturas. Neste contexto, Marc Bell, revela algumas particularidades da mensagem associada à mixagem de tecidos da sua coleção e que é uma das suas marcas características: – unir comunidades (povos/países), transmitir às pessoas uma mensagem de paz e fraternidade, apelando desta forma ao fim de alguns conflitos bélicos, discórdias ideológicas. O Designer assume uma posição política e social, usando as suas peças para carregarem a mensagem no corpo e difundi-la à sociedade.
Cada vez mais preocupado em conjugar estética com ética, para o “Africa Fashion” apostou numa mistura de tecidos, de texturas, criando uma mescla que reflete o mundo. Uma coleção ousada, mas real.
“É uma coleção mixturada com peças militares adaptados. Inicialmente o camuflado não deveria ser evidenciado, mas fiz questão de mudar tudo e fazer roupas militares bem coloridas. Desta forma confecionei kimonos japoneses, militar mesclado com capulana e reforçado, a pensar no inverno frio”. Destaca o Designer.
“Através do kimono quero mostrar a riqueza da mestiçagem, mostrar essa nova geração de mestiços e como é bonito a união entre as pessoas”.
“Há conjuntos militares com jaquetas e calças com bolsos. O corte é diferente. Coloquei a mais uns 10 cm nas mangas e nas pernas para criar um efeito ainda mais oversize”. Acrescentou o Designer.
Incomodado com o estado das coisas, o Designer revelou:
“Criei, também, “jaquetas jeans customizadas” com tecido da Arménia. Um país ainda em guerra com a Turquia. Com essas jaquetas pretendo mostrar que através da moda é possível a união destes dois povos. Quero que os turcos e o povo da Arménia se juntem”.
Para que o silêncio não continue a ser sinónimo de morte, a moda a assumir uma consciência social e política e que ecoou na FIL.
“Para mim escolhi umas calças “saruel” e um top sem mangas oversize, confecionado com tecido berbere de Marrocos. Pretendo mostrar a riqueza e diversidade dos tecidos no mundo”. Rematou Marc Bell.
Neste contexto, a moda compreendida como cultura, traduz muito da vida e cultura da história dos povos, a preocupação com a vida, com a abertura de consciências.
Marc Bell cria uma carga de mensagem político-social, que abre espaço para apresentar uma moda com identidade e que conversa com tudo. Marc pretende avançar nas suas criações, além de replicar o que é tido como elementos de moda, quer envolver mais setores e mais tendências sociais e culturais.
Com os modelos a exibirem os combinados das marcas, tendo no line up nomes como Jessica Moura, Zirca Silva, Luís Tavares, Vanessa Mendes, Filipe Salgueiro, Tessa Témiss, Lily, entre outros.
Agradecimentos:
Créditos Fotográficos:
Acompanhe Momade Amade: Moms Amade.
Acompanhe: Marc Bell
Acompanhe: A Boa Vida Persegue-me e Instagram.
Parabéns pelo seu artigo, está completo, com uma narrativa muuto interessante ?, gostei dos detalhes que falas sobre as peças, ‘um designer quando cria é como um chef que faz um prato – misturando e criando sabores e aromas que nos ficam marcados”, o segredo está nos detalhes…. Agora estou a preparar o outono/ inverno: já estou a preparar a nova coleção de golas para este ano e outras novidades, até breve amigo ??