O Hotel do Chiado, situado na baixa pombalina, com uma vista deslumbrante sobre a cidade de Lisboa, foi o local escolhido para acolher “FACES & FEELINGS”, a mais recente exposição do artista plástico Blackson Afonso.
Com boa aceitação por parte do público, o artista plástico que sempre gostou de desenhar e sempre se interessou por artes plásticas é responsável por ocupar a “Parede do Artista” do referido hotel, com os seus trabalhos: “retratos expressivos”.
Blackson nasceu há 36 anos no Uíge em Angola e veio para Portugal com 8 anos. Depois de estudar arquitetura em Lisboa, a curiosidade contínua e a incessante busca por coisas novas, fez com que fosse para a Hungria estudar pintura. Uma viagem fundamental para a descoberta de uma linguagem plástica própria. Uma experiência única que o levou a permanecer 3 anos, marcando simbolicamente o início do seu percurso nas artes plásticas, entregando-se por completo à pintura.
Quando regressou a Portugal, trazia na bagagem outros conhecimentos, outras vivências e um encontro com a pintura e as possibilidades visuais da palavra, assim como uma forte independência para pensar, imaginar e pintar. A partir daí as escolhas e as identificações abriram novos horizontes, novos conhecimentos e passou a sentir mais interesse, e afetividade pelos outros. Queria conhecer-se melhor a si próprio, pretendia ler rostos sem que as pessoas se apercebessem, para que não se sentissem desconfortáveis e ansiosas. Queria imaginar, interpretar e retratar as “faces” das pessoas em tela. Almejos e curiosidades inquietantes.
São os mistérios da vida, que fazem parte desta coisa fantástica que é sermos surpreendidos. Inclusive por esta exposição. Um trabalho que retrata, com sensibilidade, o delicado, o belo, a realidade que nos rodeia, transpondo-os com traços definidos, singelos, diretos e claros. Blackson quer realmente transmitir qualquer coisa… uma mensagem aos cidadãos, expressa através da pintura de sentimentos e emoções em diferentes situações. Manifestações artísticas, para despertar no público reações, sensações, emoções e sentimentos!
As emoções e os sentimentos são uma parte do que somos e das decisões que tomamos. Identificar emoções (medo, raiva, tristeza e alegria) é o primeiro passo para aprender a lidar com elas. Talvez por sermos seres emocionais, Blackson gosta da figura humana e dos sentimentos que ela evoca.
O nome escolhido para esta mostra diz tudo sobre a exposição: “Faces & Feelings”. O público é convidado a refletir, questionar e a expandir o seu olhar, a sua interpretação, de múltiplas maneiras. A ideia de Blackson é instigar o expectador a montar esse quebra-cabeças de referências de situações encontradas nos rostos (faces), através dos quais tentamos interpretar, tentamos descobrir os sentimentos e as emoções que nos transmitem, e o que nós sentimos antes e depois de contemplá-las. Descobrir as nossas emoções.
Sobre o artista e a sua obra
Muito se poderia dizer sobre o artista e as suas telas, mas para quê? A obra fala por si, e o artista dá-nos testemunho de si mesmo através do seu trabalho. Nesta senda cingir-me-ei ao seguinte:
As suas telas significam a sua postura diante da vida, uma forma de ver, de aprender e de apreciar a existência humana. A sensação de estabilidade que a sua pintura transmite, as linhas que contornam as figuras, que as delimitam, e criam movimento na obra, refletem bem o espírito do artista. Ponderado e introspetivo. Quando as telas são recheadas de cores vivas e luminosas, denotam alegria e vivacidade.
Uma pintura com cores ocres e apagados, com poucos contrastes, pode ser sinónimo de tristeza e opressão.
A sua técnica pode também transmitir diferentes emoções. Criada pelo efeito das cores, do traço ou pela “pincelada”. Uma “pincelada” grossa pode transmitir inquietude. Uma pincelada suave e fina transmite-nos calma.
A técnica de pintura que mais usa é o pontilhismo, com o objetivo de obter tons mais luminosos que transmitam luz e calor. É uma técnica que lhe dá muito prazer.
É o estilo com que Blackson desenvolve os seus trabalhos que constitui a marca de expressão de cada obra.
Os seus “rostos”, estão carregados de expressividade, pelo gesto, ou olhar das figuras. Rostos que nos despertam sentimentos. Rostos que vão ao encontro das palavras, dos sentimentos!
No que diz respeito à proposta figurativa na pintura de Blackson Afonso, se a tivesse que classificar quanto à temática, centraria o seu trabalho na sua apreensão da expressividade da figura humana.
Os rostos e tudo o que eles expressam, são um exercício introspetivo que me fez colocar, simultaneamente, tanto na pele do artista plástico, como na de espectador de arte… de telas.
Cada rosto/face conta uma história, a nossa, a sua, a de todos os cidadãos. Saliente-se “Gente como a Gente”. No centro de tudo isso, as pessoas. Blackson Afonso gosta de pessoas e concebe com elas uma empatia natural.
É reflexo da liberdade de viver, imaginar, interpretar e criar do artista. Será que Blackson acredita ser a imaginação mais poderosa que o ser humano?
Creio que esse dom, o de não afastar de si os outros, está ligado às vivências, às suas crenças que o estimulam. O resultado é, uma tela onde o rosto manda, a figura e a mente dão as mãos e o olhar traduz uma opinião de reações, de sentimentos por descobrir.
O certo é que, a partir daqui, se olharmos com muita atenção para alguns cidadãos, julgo eu, sentimos, por vezes, ou não, uma afinidade. Uma espécie de entendimento, um sentimento de pertença, que faz com que, mesmo que não sejamos amigos, nos torna cúmplices. Blackson pretende com o seu trabalho que questionemos tudo isso.
Em mim este sentimento chegou com as adversidades da vida e da forma como as contorno. Com aprendizagem, mas também com a minha forma autêntica de gostar e respeitar os outros, e de as trazer para a minha vida.
Não consigo imaginar a pintura de Blackson sem indivíduos, sem rostos/faces.
Creio que Blackson é um homem de uma grande abertura, de uma grande humanidade. As “faces, os rostos, o semblante” que ele pinta são profundos, mas simples, quotidianos… Figuras que passaram a compor e tomar conta do seu trabalho. É curioso imaginar o que alimenta a cabeça das pessoas, bem como, a forma como a mente vai interpretar o conjunto de “faces” de Blackson.
Um artista não pode estar fechado no seu casulo. Creio que é pertinente acompanhar o que se está a passar no mundo e que tem a ver com grandes crises económicas que dão azo a uma desumanização e eventualmente… à corrupção.
Blackson é um homem com olhar independente, mas focado no que se passa no mundo, talvez por isso, encontramos um lado político, social, no seu trabalho. A título de exemplo veja-se o quadro sobre Nelson Mandela “Mandela Goes Free Today”.
Identifico-me com este tipo de intervenção, com cidadãos/artistas plásticos, que transformam a sua arte numa arma de luta, de comunicação tal como Blackson, que com esta exposição permitiu que através dos rostos que pintou, identificássemos sentimentos e sensações, e simultaneamente consciência sobre o que nos rodeia e, a partir daí, prestarmos mais atenção no outro e em nós. E ainda bem que pintam assim, porque nos ajudam a ver melhor e a estar mais atentos às pessoas, ao país e ao mundo, e também, com aqueles cidadãos de forças negativas que andam à solta e que, só por vezes, sabemos quem são!
Tocado desde sempre pela arte, o Blogue “A Boa Vida Persegue-me”, esteve presente, na inauguração desta exposição de cariz solidário. Parte da receita conseguida com a venda das obras revertem a favor da Fundação AJU, uma IPSS que tem como missão desenvolver ações e projetos através de um trabalho de proximidade, que contribua ativamente para a promoção integral da pessoa humana e da família, atendendo em especial aos mais desfavorecidos e marginalizados da Comunidade.
O artista conta já com algumas exposições, individuais e coletivas, em Portugal, país que escolheu como sua segunda pátria.
Entre os principais serviços oferecidos, o destaque vai para o serviço completo de bebidas e catering durante o evento, com a assinatura do Hotel Mundial.
Fotografias gentilmente cedidas por: Hotel do Chiado.
Crédito fotográfico: Fernanda Barroso.