A cultura representa muito da identidade de um país, de uma cidade, de uma vila, de uma aldeia… de uma região. Mas representa igualmente pessoas, algumas delas profissionais que estão a ser fortemente afetadas na presente epidemia.
Entre centenas de concertos, espetáculos cancelados ou sucessivamente adiados e eventos com lotação limitada, a arte e a cultura estão a passar uma das maiores crises com a pandemia, colocando as principais instituições culturais sob quarentena forçada.
O contexto parece conduzir a uma reflexão mais profunda sobre o estado da cultura em Portugal e mostrar de que forma é que uma pandemia trouxe à tona reflexões, fragilidades que já vêm do passado, nas suas diferentes áreas: das artes plásticas, cinema, teatro, dança, literatura e música. Ou seja, num panorama de pandemia quando a cortina se fecha as fragilidades da cultura ficam ainda mais expostas.
Apesar do elevado número de eventos cancelados e do acréscimo de trabalhadores e artistas, sejam eles quais forem, que estão a sentir na pele os efeitos desta situação, têm sido muitas as formas encontradas para contornar a situação e manter a cultura e a arte como agentes ativos e fundamentais na nossa sociedade. O cidadão é cultural, necessita da cultura como alimento para o espírito. A cultura não serve para preparar refeições, mas auxilia a iluminar e alimentar a alma.
Influenciado por isso e enquanto esperamos por melhores dias e porque a cultura é segura (respeitando as regras da DGS), sugiro que descubram alguns trabalhos recentes de músicos, artistas portugueses, como é o caso de Marco Rodrigues, que merece a sua/nossa atenção.
Engenheiro, professor, bailarino, guitarrista, produtor, corégrafo e compositor, Marco Rodrigues, lançou no dia 3 de julho, no Café Concerto do Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, na Baixa da Banheira, o seu primeiro álbum. Da Moita para o Mundo… através das plataformas de streaming. Há neste trabalho uma sensação de liberdade, segurança e aventura. É o que precisamos sentir para viver mais entusiasmados nesta fase inquietante.
Impedido de trabalhar presencialmente nos palcos, durante alguns meses, lugar que está acostumado e gosta muito, Marco Rodrigues não deixou a pandemia abater sua produtividade como compositor, bailarino, coreógrafo, músico, produtor.
Durante o tempo que esteve privado dos palcos, a sua mente inquieta ocupou-se de projetos estruturados antes da pandemia e que hoje têm uma ligação/relação íntima com a epidemia.
Apesar do contexto atípico que afetou a atividade normal de muitos artistas/profissionais deste sector, o Marco, ansioso por voltar aos palcos, continuou ativo de forma online e o momento deu-lhe a oportunidade para desenvolver projetos que já vinham do passado. Músicas que estavam guardadas na gaveta tomaram assim forma neste momento de pandemia.
“A CULTURA NA RESPOSTA À CRISE”
Assim surgiu “Dystopian Suite for Números”, o álbum de estreia, gerado na pandemia.
O novo projeto surgiu durante o período de confinamento num processo em que a insegurança e a frustração foram convertidos em tempo para se dedicar ao novo trabalho.
A este projeto juntou-se Marina Popova que coreografou algumas músicas e contou ainda com a participação dos bailarinos da Companhia de Dança Marina Popova, que dançaram ao lado de Marco Rodrigues. Depois destas restrições foi difícil ficar preso nas cadeiras. E foi impossível não querer dançar!
O álbum de estreia deste multi-instrumentista, produtor e compositor, foi criado para ser a banda sonora original do espetáculo “Números”, dos Moon Trashers.
Os Moon Trashers são o meio através do qual Marco Rodrigues atravessa as fronteiras entre o criador, intérprete, músico e bailarino, não poupando esforços para que todas as suas composições sejam muito mais do que apenas sonoridades ambiente.
A este propósito Marco explicou: “Este projeto é de facto independente da Companhia de Dança, no entanto, tendo em conta que em estúdio toquei dezenas de instrumentos diferentes, mas que na prática sou só eu a solo, faz todo o sentido “ilustrar” a apresentação ao vivo deste projeto com os bailarinos da Companhia de Dança Marina Popova a interpretarem excertos de coreografias da peça.”
“Com objetivos claros e muito concisos, as músicas dos Moon Trashers tornam-se na verdade parte dos cenários que pretendiam ilustrar, condicionando-os e até dramatizando as performances a que estavam destinadas inicialmente – como aferiu ao Blog “A Boa Vida Persegue-me” Marco Rodrigues.
Que esta apresentação em plena pandemia (fomos levados a uma introspeção e a querer conhecer um pouco mais os porquês das fraquezas da cultura em geral), faça mudar o entendimento sobre a importância da cultura.
Que traga uma mensagem positiva e que desperte o sentimento de esperança e a expectativa de que tudo passará e de que dias melhores virão.
No lançamento dos 11 temas que compõem o álbum, que marcou mais uma aventura com assinatura de Marco Rodrigues, decorreu num ambiente intimista, descontraído, muito à imagem a que já nos habituou e, juntou alguns dos seus “espectadores favoritos”: família, amigos, representante da autarquia e a equipa do Blog “A Boa Vida Persegue-me”.
Vivina Semedo Nunes, Vereadora em representação da Câmara Municipal da Moita, disse ao Blog:
“Tarde de sábado muito agradável. A apresentação do trabalho musical apresentado traduz uma aposta na música aliada à dança.
Num momento em que o confinamento nos arrastou para espaços fechados e solitários, este trabalho é quase um grito de libertação, como que uma afirmação que a arte conjugada nas suas varias formas, nos proporciona comunicação com os outros, beleza e interação. A cultura é segura, e é um espaço onde nos podemos dizer e encontrar.
Parabéns ao Marco Rodrigues pela dedicação e persistência e à Marina Popova pela coragem de inovar sempre.
No fim de cada espetáculo ficamos sempre na expectativa do que virá a seguir, aguardemos então… e que não demore muito!”
A presença e o empenho da assistência, a união, a resistência e a paciência, o espírito colaborativo, o estar aqui e agora traduzem a apresentação deste trabalho, no Café Concerto do Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, na Baixa da Banheira. Para que as artes vivas possam acontecer/sobreviver é preciso “estarmos juntos”.
Sinta-se à vontade para apreciar este trabalho.
O álbum está disponível nas principais plataformas de streaming.
Spotify, Apple Music, iTunes, Amazon, Deezer, iHeartRadio.
Créditos Fotográficos: Carla Frade, Marcos Camilo (Fotografia de destaque) e Câmara Municipal da Moita.