ASSÉDIO MORAL POR NUNO AUGUSTO, PSICÓLOGO

Afinal de contas, o que é o Assédio Moral?

Iniciamos a parceria com o Psicólogo Nuno Augusto com o tema NOTAS SOBRE O (DES)CONFINAMENTO. Um dos temas mais falados atualmente.

Hoje damos continuidade com o tema, Assédio Moral ou Violência Moral no Trabalho, que por sinal também, não é um fenómeno recente. Podemos afirmar que ele é tão antigo quanto o trabalho.

Porém, ultimamente tem vindo a ganhar relevância, não porque se trate de uma nova questão nas relações jurídico-laborais, mas sim de um velho problema social e humano que assumiu contornos muito mais preocupantes quando as pessoas passaram a padecer de doenças associadas a tal comportamento abusivo.

A sua manifestação não se reduz, como muitos pensam, a críticas, piadas, ameaças ou insultos por parte de superiores hierárquicos, sobrecarga de tarefas, instruções imprecisas, imposição de horários, isolamento ou até mesmo restrição ao uso das instalações sanitárias. No âmbito das principais particularidades do ato estão a repetição e a possibilidade de ocorrência entre colegas de cargos diferentes ou de mesma função.

A novidade do fenómeno, reside no seu aumento, gravidade, extensão e banalização do procedimento e na forma de abordagem.

Mas afinal de contas, o que é o assédio moral? Foi esta questão que colocamos ao Psicólogo Nuno Augusto.

ASSÉDIO MORAL POR NUNO AUGUSTO, PSICÓLOGO

Este artigo tem uma natureza meramente informativa, visando ser um instrumento de apoio, contribuindo para um maior esclarecimento sobre o fenómeno de assédio moral. Caso identifique situações de assédio, será fundamental envolver os serviços de segurança e saúde no trabalho, e procurar apoio especializado.

Comummente conhecido, entre outras designações, por mobbing ou até por bullying laboral, o assédio moral caracteriza-se como uma interação que consiste em atos de assédio, discriminação, conduta não desejada com um efeito adverso sobre a dignidade, isolamento ou exclusão social, humilhação pública e profissional, crítica, intimidação, e abuso psicológico e por vezes físico. Este processo ocorre repetidamente e ao longo de um período.

O assédio moral afeta, principalmente, os trabalhadores (vítimas primárias), causando extensas consequências psicológicas para o resto das suas vidas, afetando tanto o seu ambiente familiar como social, representando um dos conflitos laborais mais frequentes, dos últimos tempos.

Os comportamentos do assediador apresentam como objetivo principal a criação de um ambiente hostil ou desestabilizador. Para tal, as estratégias utilizadas são muito variadas, e na maioria das vezes são combinadas entre si. Incluem as seguintes:

  • Gritar, empurrar ou insultar;
  • Atribuição de objetivos ou projetos com prazos inalcançáveis ou impossíveis de cumprir, e tarefas que são manifestamente intermináveis nesse tempo;
  • Sobrecarregar com demasiado trabalho e exercer uma pressão excessiva;
  • Ameaçar ou coagir continuamente;
  • Retirar responsabilidades, e atribuir tarefas de rotina, sem interesse;
  • Modificar, sem comunicar, as responsabilidades ou as funções no trabalho;
  • Tratar de forma diferente ou discriminatória, utilizando medidas exclusivas, com vista a estigmatizar perante outros colegas ou chefes;
  • Ignorar de modo consciente ou excluir, falando apenas com uma terceira pessoa presente, fingindo a sua inexistência no escritório, ou em reuniões a que assiste (“como se fosse invisível”);
  • Reter informação crucial para a realização do trabalho ou manipular para induzir em erro, e depois acusar de negligência ou má conduta profissional;
  • Difamar, espalhando rumores maliciosos ou caluniosos;
  • Subestimar ou não valorizar em absoluto o esforço, recusando-se a avaliar periodicamente o seu trabalho;
  • Limitar ou impedir o desenvolvimento profissional ou a carreira;
  • Ignorar os sucessos profissionais ou atribuí-los a outras pessoas ou a elementos, tais como o acaso ou a sorte;
  • Criticar continuamente o seu trabalho, as suas ideias, as suas propostas, as suas soluções.

As vítimas são, assim, envolvidas e expostas a situações perante as quais têm dificuldade em defender-se, podendo desenvolver perturbações psicopatológicas como depressão, ansiedade, perturbações de stress pós-traumático e de adaptação, e em casos mais graves, o suicídio. Verificam-se sentimentos de medo e preocupação sobre o seu futuro dentro da organização onde ocorreu o assédio moral, ou a sua empregabilidade, em caso de despedimento. As preocupações com as finanças, seguros de saúde, perda do estatuto profissional e pessoal, danos na reputação, dúvidas pessoais, perda de autoestima, autoconfiança, e autocapacidade, isolamento social, e problemas de saúde psicológica e física são fontes adicionais de preocupações reais e prementes. O resultado, em termos de trauma psicológico individual, é uma sobrecarga sistémica.

O assédio moral também aumenta o nível de stress e medo dos espetadores, onde estes estão frequentemente conscientes da situação, mas não intervêm. No entanto, podem desempenhar um papel importante neste processo, providenciando um contexto de apoio à interação entre o agressor e a vítima, ou contribuindo ativamente para o mesmo.

No sentido de se prevenir e intervir nesta problemática, é fundamental, proceder-se à adoção de estratégias organizacionais adequadas, e estabelecer um plano individual de recuperação do bem-estar pessoal.

Medidas organizacionais

Medidas individuais

Políticas transparentes relativamente ao que é, e não é permitido

Identificar a situação de assédio moral e os danos sofridos pela mesma

Implementar programas preventivos e ações de formação

Recordar, descrever e documentar acontecimentos críticos de assédio, construindo narrativas coerentes

Dar a conhecer/comunicar a todos os funcionários o que é o assédio moral, a fim de o identificar precocemente

Promover a autonomia, avaliando quais as estratégias que serão mais significativas e úteis para o próprio, no sentido de permanecer ou sair da organização

Promover o respeito pela dignidade pessoal

Identificar e estabelecer zonas no local de trabalho, onde se possa sentir física e emocionalmente seguro

Empenho conjunto de todos os membros da organização na criação e manutenção de um local de trabalho sem violência

Avaliar as respostas físicas, emocionais e comportamentais ao assédio moral, prestando atenção aos sentimentos, sensações corporais, e refletir sobre a resposta emocional e comportamental utilizada

Reforçar a participação dos trabalhadores na tomada de decisões

Estabelecer como prioridade o autocuidado (e.g., relaxar, meditar, praticar exercício físico)

Definir claramente quais as funções dos colaboradores

Estabelecer uma rede de suporte social significativa

 

Reafirmar os valores segundo os quais deseja viver

 

Envolver-se em atividades significativas

 

Obter ajuda profissional, quando necessário (e.g., apoio psicológico, jurídico)

Crédito Fotográfico: Miguel Silva

Agradecimento: Edite Tem Jua e Casa do Criativo.

Bibliografia

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