NOTAS SOBRE O (DES)CONFINAMENTO, POR NUNO AUGUSTO, PSICÓLOGO

Uma Parceria Simples e Objectiva!

O Blog “A Boa Vida Persegue-me” estabeleceu uma parceria simples e objectiva com o Psicólogo Dr. Nuno Augusto, para ajudar, passo a passo, os amigos e seguidores deste Blog a encontrar harmonia, equilíbrio e a descobrir um melhor bem-estar e realização em conjunto.

VAMOS AVANÇAR, com o primeiro artigo.

Seja feliz!

NOTAS SOBRE O (DES)CONFINAMENTO, POR NUNO AUGUSTO, PSICÓLOGO

A vida tal como a conhecíamos mudou, instalou-se uma nova realidade e com esta surgiram novos comportamentos, rotinas e prioridades. A vida ganhou um novo peso, uma nova perceção. Encontramo-nos num tempo de grandes incertezas, com a pandemia Covid-19 a demonstrar implicações alarmantes para a saúde individual e coletiva, bem como para o funcionamento emocional e social.

Na tentativa de controlar e conter a doença, têm sido impostas medidas extraordinárias: as liberdades pessoais condicionadas, as perdas financeiras, e as mensagens contraditórias das autoridades estão entre os principais fatores de stress que, sem dúvida, contribuem para a angústia emocional generalizada. Contudo, a investigação sobre saúde mental em situações de desastre identificou que a maioria das pessoas se revela resistente e não sucumbe à psicopatologia. Na verdade, algumas pessoas encontram novos pontos fortes.

Neste momento encontramo-nos na fase de desconfinamento, um gradual retorno a um quotidiano semelhante ao vivido anteriormente, que se afigura como um processo de constante análise e adaptação, onde a taxa de sucesso depende da monitorização realizada em cada etapa. As investigações revelam a possibilidade da existência de sequelas psicológicas em pessoas em quarentena:

  • Stress, Ansiedade e Perturbação de Stress Pós-Traumático
  • Depressão
  • Irritabilidade
  • Insónia
  • Medo
  • Confusão
  • Raiva
  • Frustração
  • Aborrecimento
  • Estigma

O que se sabe é que o impacto psicológico da quarentena é abrangente, substancial e pode ser duradouro. Isto não sugere que a quarentena não deva ser utilizada – os efeitos psicológicos de não recorrer a esta medida e permitir que a doença se propague poderiam ter sido piores.

Tendo em consideração a presente situação e as suas condicionantes extenuantes, é importante salientar que apesar de ser um acontecimento à escala global, as reações são individuais e variam – as pessoas seguem respostas diferentes.

No pós-quarentena será fundamental procurar identificar e regular os fatores de risco e fomentar os fatores de proteção.
Fatores de risco Fatores de proteção
·       Stressores contínuos ou adicionais (e.g., fome, fadiga, medo)

·       Estratégias de coping desadequadas (e.g., evitamento, culpabilização, consumo de substâncias)

·       Baixo nível de suporte social e emocional ou elevadas exigências sociais

·       Pouca informação acerca da natureza e razões do acontecimento

·       Retomar atividades normais do quotidiano

·       Assumir uma postura ativa face às consequências do incidente

·       Estabelecer uma rede de suporte social e emocional

·       Lembrar o sucesso alcançado em acontecimentos traumáticos anteriores

·       Procurar informação adequada

·       Potenciar sensações de segurança, autoeficácia e eficácia da comunidade, e de esperança

No panorama atual é fulcral direcionar a sua atenção e agir no que está ao seu alcance e pode controlar, recordando as suas capacidades para lidar e ultrapassar tantas situações difíceis e exigentes experienciadas até então. Este fenómeno denomina-se Crescimento Pós-Traumático e pode ser definido como a mudança positiva que as pessoas experienciam, como resultado de um processo de adaptação face a uma experiência traumática.

Não obstante, se sentir dificuldade neste processo, saiba que pode sempre solicitar ajuda, quer de modo informal – numa conversa com amigos ou familiares – quer contactando com um profissional.

Bibliografia

Brooks, S. K., Webster, R. K., Smith, L. E., Woodland, L., Wessely, S., Greenberg, N., & Rubin, G. J. (2020). The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. Lancet, 912-920.

Pereira, M. (2015). Intervenção Psicológica em Crise e Catástrofe. Lisboa: Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Pfefferbaum, B., & North, C. S. (2020). Mental Health and the Covid-19 Pandemic. The New England Journal of Medicine, 1-3.