Alhos Vedros é a mais antiga freguesia do Município da Moita. É um pitoresco sítio que se insinua em frente ao Tejo, no distrito de Setúbal, e a escassos 45 minutos de Lisboa. A freguesia de Alhos Vedros torna-se num local apetecível para quem gosta de fazer uma pausa da vida urbana.
Foi vila e sede de concelho até 1855. Cheia de traços das suas origens multisseculares e do seu passado histórico, de que são exemplo o único Pelourinho manuelino completo do distrito de Setúbal, o Poço Mourisco, a Igreja Matriz de São Lourenço, a Capela da Santa Casa da Misericórdia, e o Moinho de Maré, a relevância de Alhos Vedros é testemunhada em 15 de dezembro de 1514, ao receber o chamado Foral Novo, atribuído por D. Manuel.
E quem passa às portas desta vila, sobretudo, em junho, poderá viver o espírito medieval, na Feira Medieval de Alhos Vedros, organizada pela Associação Alius Vetus, com o apoio da Câmara Municipal da Moita. Nesta altura do ano, poderá desfrutar de um mundo que reflete a verdadeira essência da vila, onde vários sabores e aromas, se misturam num tacho de culturas.
Deixamos aqui o desafio e o convite para visitar uma vila antiga, cheia de cantos e encantos, serpenteada de simpáticos restaurantes, uns contemporâneos, outros não. São spots apreciados ou insuspeitos, mas sobretudo descontraídos. Nem sempre têm esplanadas, nem vistas a perderem-se no horizonte…. no Tejo, mas valem cada momento que se lhes dedica. Aqui os dias de ócio podem ser vividos entre uma Sopa Caramela ou uma Caldeirada à Fragateiro e um copo de vinho da região.
Pois bem… mesmo junto da Praça da República, mais concretamente na Rua Arnaldo Cortiço, n.º 1, encontra-se o Restaurante Vetus, onde a sinergia entre a cozinha tradicional e a cozinha contemporânea permitem-nos harmonizar as memórias gastronómicas das antigas receitas com uma sofisticação sem pretensões, nem arrogância, que confere aos pratos apresentados sabores muito peculiares.
Desde 2018, ano da abertura do Vetus, que este restaurante situado numa vila velha passou a oferecer um serviço de restauração de autor, com sabor tradicional, aliado a um ambiente despretensioso e caseiro. Esta casa, que há 18 anos foi uma casa de fados, é agora uma “tasca moderna” que prima pela cozinha contemporânea de sabores genuinamente portugueses e pelos jantares vínicos de degustações.
O espaço do Vetus foi renovado e conta agora com uma decoração com assinatura de Joana Ribeiro. É jovial, amplo, arejado e revela simplicidade. A sensação de amplitude torna o ambiente clean, leve e espaçoso, tudo em doses q.b. e sem grandes exageros.
A sala de refeições é grande, luminosa, com as mesas generosamente espaçadas para assegurar a privacidade dos clientes/convivas.
É um local aprazível tanto para famílias, como para amigos. Todos os pormenores contam: comida de sabores equilibrados, uma ementa repleta de provocações, de inspiração portuguesa com um toque do mundo, onde se aliam os melhores vinhos portugueses.
Saborear o Futuro
Nos dias de hoje, com a crescente e diversificada oferta, já não há desculpas para “desmontar” sempre a mesma coisa. Pense para lá do horizonte, pense “fora da caixa” e experimente novos ingredientes e sabores exóticos, surpreendentes, mesclados com os nacionais. Das fantásticas variedades de especiarias aos molhos e carnes, os sabores do mundo fazem com que tenha vontade de saltar do sofá.
A tendência de novos sabores identifica, além dos produtos nacionais, elementos vigorosos, suculentos, exóticos, balsâmicos, a incluir na culinária nacional. São os ingredientes e produtos que plasmam o futuro do paladar.
Os sabores ardentes dos grelhados e os ingredientes internacionais usados numa cozinha contemporânea servem para saborear o futuro; descobrir, experimentar e partilhar os sabores do Chef Vitor Hugo. A melhor sugestão que lhe podemos deixar é mesmo sentar-se à mesa e “desmontar” um dos pratos que o Chef propõe.
Para abrir o apetite, o cardápio sugere-nos de entrada: Miolo de camarão salteado com alho e mostarda; Tábua de enchidos de porco preto; Tábua de queijos, Tábua mista e Ovos mexidos com espargos.
Por fim enche-se a ementa com os pratos principais:
Os pratos de peixe preparam-nos o palato com Lombo de Bacalhau assado, sob uma cama de espargos e batata salteada; Lombo de Bacalhau cozido com grão e Peixe fresco do dia.
Para os pratos de carne apostam essencialmente no sabor especial, na suculência e maciez da carne uruguaia.
Acém do Uruguai; Vazia do Uruguai, Picanha do Uruguai; Bitoque de Alcatra do Uruguai; Fraldinha dos E.U.A. e Lombinhos de porco com shitake e molho de natas.
Como não são a favor dos ativistas do sofá, aos sábados, desafiam-nos para uma Feijoada de Buzinas (apenas por encomenda).
Mas estão também atentos a quem trabalha na zona diariamente e que não despensa a comida tradicional, onde adicionam um toque contemporâneo e sofisticado. Nesse sentido, publicam nas redes sociais, todas as quartas-feiras, a ementa semanal dos pratos do dia, exceto sábados, domingos e feriados, também eles assinados pelo Chef Vitor Hugo.
Toda a oferta gastronómica está associada a um serviço de qualidade assegurado por uma equipa profissional e cordial que nos convida a usufruir de um espaço descontraído e com boa vibe.
O Trabalho em equipa
O Chef Vitor Hugo é a pessoa responsável por manter um ambiente de trabalho pacífico e descontraído. Conta, por vezes, com a colaboração de José Paiva, homem de confiança na linha da cozinha, e o Fernando Barata é o responsável para que tudo corra bem na sala de refeições.
O CHEF
O Chef anfitrião deste espaço é Vitor Hugo, um cozinheiro que coloca paixão, qualidade e uma pitada de ousadia em tudo que sai da cozinha.
Chegou a jogar futebol e antes de pendurar as chuteiras e de se tornar cozinheiro, foi considerado um craque do Barreirense e do Moitense.
Nos últimos anos, a vida de Vitor Hugo, deu uma verdadeira reviravolta. Uma lesão afastou-o dos campos de futebol e foi nessa altura que foi apurando o olfato junto da comida da mãe, despertando-lhe a curiosidade sobre o que saia da cozinha da sua casa. Recorda: “A minha mãe é ótima a fazer comida de tacho”. Longe das relvas, influenciado pelas comidas da mãe e aliando o gosto por comer, o interesse pela cozinha foi ganhando expressão. Foi este o primeiro passo do seu percurso na área da restauração, transformando-se num “exímio cozinheiro”. Hoje, dedica-se a 100% à gastronomia.
Focado, investiu na arte de cozinhar, depois de uma formação na área. A experiência foi-se enriquecendo em vários restaurantes e, em 2018, assumiu a função de Chef executivo, no seu próprio restaurante, depois de ter passado pela “Casa das Enguias” e pelo Restaurante O Fondue (como empregado de mesa).
No seu espaço, o Vetus, oferece uma cozinha de autor, com uma interpretação contemporânea da cozinha tradicional e influência internacional, recorrendo sempre a ingredientes frescos. Mistura técnicas antigas com outras mais contemporâneas.
O ponto alto da noite, entre conversas de cozinha e de mesa, da partilha de experiências e alguns copos de vinho, haveria de chegar sob a forma de um “jantar de degustação vínico”.
O restaurante Vetus associou-se aos Vinhos da Herdade das Assentes de Baixo e promoveu uma noite de degustação, onde aliou os vinhos a uma gastronomia autoral.
Aprendiz de cozinheiro!
Respondi afirmativamente ao convite de Bruno José Gomes, representante da VINICOM – Comércio & Distribuição de Vinhos, para participar desta experiência, onde o vinho ganhou lugar de destaque e a união com a gastronomia esteve no centro do evento. Rumei então a Alhos Vedros para o Jantar Vínico.
Minutos depois, mesmo não sendo cozinheiro, aceitei o desafio do Chef anfitrião e da sua equipa e atrevi-me a ser aprendiz de cozinheiro por uma noite!
Lá fui para a cozinha do Vetus e entreguei-me às experiências gastronómicas, atento, particularmente, aos segredos de como servir uma boa carne do Uruguai.
Já que coloquei os pés na cozinha, mostrei do que sou capaz e fiquei muito impressionado com a técnica e a culinária do Chef anfitrião.
Preparar, grelhar uma carne uruguaia e deixá-la no ponto, é mesmo uma arte, para que todos os sabores da carne se revelem. Vitor Hugo é exímio ao acertar no corte e grelhar na cocção correta.
…. um exercício de agilidade que marcou o jantar vínico!
Ora foi precisamente para mostrar como se corta uma peça de carne do Uruguai que, o jovem Chef desafiou este comensal da boa vida, que pulula entre os pratos de peixe, de carne e as sobremesas, a vestir um avental e ir para a cozinha à vista de todos.
O Uruguai é um dos países com maior tradição quando o assunto é carnes bovinas de qualidade.
Diferencia-se pelo sabor e maciez característicos, resultantes da criação dos animais nos campos do Uruguai, em pastagens naturais que contribuem para a excelência deste produto, conferindo à carne uma inequestionável maciez, sabor, cor, textura e suculência.
As carnes bovinas do Uruguai são umas das mais ricas (deliciosas) e a sua qualidade é reconhecida em todo o mundo. Produzem cortes selecionados, puncionados a vácuo, sem adição de hormônios, e com maciez e gordura intramuscular inigualáveis.
A DEGUSTAÇÃO
“Do Beber ao Degustar – Levei o tempo todo a pecar”
Quando se procura prazer e bem-estar, aceitam-se convites para degustar um bom vinho e “desmontar” comida saborosa, preparada numa cozinha aberta onde se podem ver a azáfama, mas também os sorrisos de quem lá labora.
A intensão principal foi dar a conhecer aos clientes uma oferta variada de pratos, cada um deles acompanhado por um vinho, aliando sempre um dos meus conceitos preferidos: desmontar sem pressas.
O “Jantar Vínico”, a prova sensorial, contou com a curadoria gastronómica do Chef Vitor Hugo.
Os participantes foram recebidos às 20h00. A refeição iniciou com um “amuse-bouche” para despertar o paladar.
Uma mesa composta de enchidos que sobressaíam pela aliança entre a qualidade e a particularidade ímpar do sabor, uma oportunidade para treinar o palato, dando o mote para uma “sentada/repasto” de sabores apurados.
Destacam-se o Copita de Porco Preto fumado, a Tábua de Queijos da Ilha de S. Jorge, os Queijos Aveleda, as Tostas de Pão Alentejano da Pão da Terra, a Manteiga de Cabra e o Paté à Vetus. Estas iguarias vieram acompanhadas do primeiro vinho da noite, o branco Joaquim Costa Vargas – Vinho Regional Alentejano.
Apresenta cor cítrica, aroma rico e atrativo, fresco, intenso e frutado, cítrico e com notas bem marcadas de frutos tropicais. O paladar é macio e equilibrado e de final frutado e longo. Leve e com muita boa acidez que lhe confere grande frescura.
Seguindo esta “viagem gastronómica”, chegámos aos pratos principais que harmonizam sabor do mar e da terra.
Com o estômago aconchegado, seguiu-se o prato de peixe que nos transportou para a frescura do mar, através de um “Bacalhau (Riberalves) assado” e lascado.
Prato com sabor a mar, resultou na perfeição, sendo aperfeiçoado por temperos com peso e medida: alhos, coentros, espinafres e espargos verdes frescos. Acompanhado por batata salteada em azeite, alho e orégãos.
Cravado numa travessa a condizer, o bacalhau sob uma cama de espargos verdes, estava pronto a ser lançado para o prato e desmontado por nós, comensais esfomeados da Boa Vida.
A combinação de texturas foi maravilhosa, o bacalhau estava no ponto da cozedura, saboroso e suave. Todos os sabores clássicos do bacalhau apresentados de forma criativa, conjugados com Vinho Tangente by Joaquim Costa Vargas – Vinho Branco – Região do Alentejo.
Apresenta cor dourada, aroma rico e atrativo, intenso e frutado, cítrico e com notas bem marcadas de frutos tropicais tão características do Antão Vaz do país das uvas. O paladar é macio e equilibrado e de final frutado e longo. É aveludado leve e com muito boa acidez, conferindo-lhe grande frescura.
Após uma breve pausa, regressamos à terra e seguimos viagem até ao Uruguai para desmontar um bife do Acém.
Carne bovina localizada na parte do pescoço do animal. Por conter pouca gordura é perfeita para grelhar. Os sabores intensos e a maciez estão lá, mas, somos surpreendidos com o acompanhamento: uns pimentos caramelizados e milho doce assado que ligam muito bem com a batata frita e arroz basmati.
É uma carne com a quantidade certa de gordura, muito saborosa e suculenta.
Acompanhámos com Vinho Tangente by Joaquim Costa Vargas – Tinto, Região Alentejo.
Apresenta cor rubi com laivos violáceos, aroma a frutos vermelhos bem maduros, com notas de baunilha, equilibrado e bem integrado com a madeira. Algumas notas de fruta preta doce ou macerada, compota, ameixa e alguma especiaria.
O paladar é aveludado, redondo e macio, rico e “guloso”. Conjunto muito agradável, intenso, mas equilibrado. Com uma boa estrutura de taninos embora suaves e acidez equilibrada.
A causar também enorme espanto à mesa, segue-se uma tábua com Fraldinha dos E.U.A. grelhada.
Uma carne localizada entre a parte traseira e a costela do animal. É uma das mais suculentas. Cortada no momento, à vista de toda a gente, para não perder os sucos. Fica com mais sabor e desfaz-se na boca. Precisa apenas de flor de sal para emprestar uma certa frescura, não para dar sabor.
É suculenta, macia, saborosa e com pouca gordura.
Depois de grelhada, é servida após um breve descanso, para que os sucos da peça se redistribuam e não perca a suculência e maciez. Saborosa com batata frita, arroz basmati, pimentos caramelizados, e abacaxi grelhado. Já está a salivar?
Foi o prato que despertou todas as minhas sensações, simultaneamente. Uma combinação perfeita, um prato dos deuses.
Uma experiência gustativa diferente, arrebatadora.
O fotógrafo, Pedro Bonnet, sorriu e também gabou a excelência da carne. Tentou cumplicidade com os meus olhos…. mas, este comensal esfomeado, já estava dominado pela carne sedutora no aroma, na visão e no paladar. Garfo e faca na mão, rasgaram a “fraldinha” que foi paulatinamente deglutida… estava saborosíssima! Um prato que pede um bom vinho para criar um momento especial.
Para harmonizar com a “Fraldinha”, só podia ser um daqueles vinhos que não se percebe de início… é forte, porém, depois de degustado, é como se estivéssemos a saborear seda… veludo. Complexo, elegante e fino. Tendo a escolha recaído no vinho Ovelha Negra.
De cor vermelha intensa e profunda. Este vinho apresenta um aroma complexo, intenso, com notas de frutos vermelhos, morango, cerejas e framboesas muito maduras ou em compota, flor de laranjeira com nuances de moka e frutas cristalizadas. No paladar, o vinho tem uma boa presença de taninos que, pelas castas e personalidade, se apresentam provocantes e robustos, mas de textura sedosa. A mostrar densidade e corpo terminando de forma longa e persistente.
Numa degustação que apaziguou a alma e aqueceu o estômago!
Faltava só a sobremesa. E eis que chegou um Pudim Abade de Priscos. Uma surpresa preparada pelo José Maurício que juntou gemas, açúcar e toucinho de porco preto. O segredo está na matéria-prima que utilizam. Seria um disparate resistir à melhor sobremesa da ementa!
Um final perfeito para este jantar vínico. Uma estória para partilhar com final feliz!
A harmonização e apresentação dos vinhos foram feitas por Bruno José Gomes, um especialista na área e responsável por harmonizar as criações do Chef com os vinhos, sem que estes se sobreponham aos sabores e às texturas do repasto/sentada.
Numa simbiose perfeita entre os ingredientes de qualidade e os vinhos selecionados, a degustação assumiu um brilho especial.
Como resultado, tivemos à mesa para desmontar e secar, um duelo irresistível entre boa comida versus vinhos… e uma mão cheia de conversa.
A atmosfera, a boa energia, a história local e o que olhamos em volta, tornou-se importante para completar tudo aquilo que degustamos.
Sirva-se à vontade em:
Rua Arnaldo Cortiço Nº1, Alhos Vedros, Moita, Portugal
Ligar 21 083 1188
Créditos Fotográficos: Pedro Bonnet
Styling: Scoth & Soda