Saiu fumo branco da chaminé do restaurante “Casa de Pasto”, na rua de São Paulo, em Lisboa, indicando que habemus papa nova!
Uma ementa renovada e uma equipa com rostos novos. Pelo ambiente único e a cortesia da equipe Casa de Pasto já se justifica a ida ao restaurante. Apesar das mudanças, o conceito do espaço e o bem receber mantêm-se.
A nova carta, com algumas sugestões da ementa anterior, combina com os dias amenos de inverno e traz sabores caseiros e aromas da época, preparados pelo Chef Hugo Dias de Castro, com o cuidado típico da gastronomia da Casa de Pasto e alguma irreverência à mistura, que é algo determinante nesta casa! O espaço está igual e a ementa excelente.
De entre das novas tentações, destacam-se algumas especialidades para aguçar o apetite.
Como sempre, são os ingredientes portugueses que marcam a nova carta do restaurante.
O novo menu, pensado como um todo, vai do marisco às carnes. O Chef reservou uma atenção especial ao bacalhau, peixe que os portugueses tanto gostam de usar nos seus pratos.
Talvez por isso, as novidades iniciam com o típico bacalhau, que ganha roupagem nova. Envolvente e pronto a ser desmontado, é transformado num dos emblemáticos acepipes, do novo menu da Casa de Pasto: Sonho de Língua de Bacalhau, Brandade de Bacalhau e Salada de Sapateira em tostada de Milho.
Outras novas opções, são: Creme de Marisco com Bolo do Caco e Manteiga de Alho e Creme de Cenoura na Brasa.
Dos pitéus e iguarias chamo a atenção para o Tártaro de Novilho, com Cremoso de Tomate Assado, Mexilhão na Brasa com Escabeche de Legumes, Queijo de Entorna e Mel de Tomilho, Cogumelos Estufados em Madeira, Salada de Feijão e Espetadinha de Lula, Cabeça de Xara e Figos com Romesco.
As inovações dos pratos com peixe e bivalves incluem a Caldeirada de Bacalhau, Robalo acompanhado de Arroz de Bivalves, Carabineiro com Arroz, aipo, açafrão e malagueta em pickle.
Se não gosta de bacalhau e não é apreciador de peixe não se preocupe. Não precisa de procurar muito, uma vez que encontra algumas alternativas na nova ementa do Chef Hugo. Refiro-me à Perna de Pato, citrinos e Arroz de Moelas ou a Mão de Borrego solta à Avó Sãozinha.
Depois, há as especialidades no Braseiro: Polvo Grelhado, Puré de Cebola e Chalotas Caramelizadas, Bacalhau em Sopas de Pão, Peixe do Dia e Manteiga Montada, Presa de Porco Preto e Puré de Beringela Fumada e Maturada com Mostarda Caseira. E para sobremesa umas deliciosas Farófias na Brasa.
Preparados ao estilo da cozinha portuguesa, são algumas das sugestões deste Outono/Inverno. Aqui deixo apenas sugestões, porque a nova e completa ementa pode encontrá-la, experimentá-la, usá-la e abusá-la na Casa de Pasto.
Com estilo urbano e ambiente caseiro de farta degustação, a “Casa de Pasto”, desafiou-me para vivenciar esta experiência gastronómica.
“Está pronto para a degustação?” Perguntou o Chef Hugo Dias de Castro.
– Sim claro! Retorqui. Certo de que há coisas que valem por serem mais do que as palavras. Esperava-me uma grande e saborosa etapa: a divina comilança do mestre Hugo Dias de Castro, feitinha mesmo do jeito que eu gosto.
Entreguei-me nas mãos do Chef Hugo para desmontar o menu de degustação, como se de uma cobaia se tratasse. Confiei na surpresa… com os olhinhos brilhando num sorriso maroto com sabor a transgressão (se for preciso quebrar regras a bem da minha satisfação…).
Começamos pelos cocktails preparados pela Ana, a nova “Bar Maide” que nos presenteou com 2 cocktails. O primeiro, “Tropical Pine Apple”, um jogo tropical entre sumo de ananás, vodka, sumo cítrico, xarope de canela, folhas de menta e clara de ovo.
Depois, apresenta-nos, “Poejo Power”, uma mescla de Gin, xarope de poejo, St. Germain e clara de ovo.
Era preciso secar para refrescar!
Sem tempo a perder Hugo apresentou-nos o Menu de Degustação da Carta Outono/Inverno. “A Boa Vida Persegue-me” desmontou o menu de degustação e o resultado foi este:
Começamos por sorver um Creme de Marisco. Na base, ovos de tobiko, gamba braseada e creme fraîche. Para acompanhar, bolo do caco com manteiga de alho.
Paulatinamente, com o calor, o caldo foi-se apurando, fundindo os ingredientes e soltando os aromas, perfumando ligeiramente o ambiente. Que forma deliciosa de abrir caminho para um Tártaro de Novilho.
Tudo harmonizado com vinho tinto do Dão Pedra Cancela – seleção enólogo, 2015 (Touriga Franca/Tinta Roriz/tinta barroca).
Depois porque não continuar com um prato de carne vermelha?! Eis que chega à mesa um Tártaro de Novilho. Na base um cremoso de tomate assado, tomate em pikcles, sabelé de queijo da ilha e alface frisado. Bem envolvidos os ingredientes, a mistura está pronta a ser degustada, seduzindo sobretudo a “afición gastronómica do Tártaro”, como o Miguel Pais da Silva, fotógrafo do Blog.
A seguir chega-nos o “soberbo” Mexilhão na Brasa. Aberto ao natural, com escabeche de legumes, ligeiramente marcado pelas brasas, traz um toque ténue de rebentos de coentros e oferece uma sucosidade “libidinosa” que dificilmente se esquece.
É um dos muitos petiscos desta casa de pasto que desmontei sem pestanejar. O mexilhão levado à brasa fica particularmente delicioso e os ingredientes que o acompanham parecem fazer-lhe a corte! Quebra-se a regra e lambem-se os resquícios do molho na mão! Dupla delícia! É tão simples e tão bom lamber os dedos e chorar por mais! Deleitei-me, vendo o prazer com que desmontei este singelo mexilhão. Tenho que encontrar a forma certa para lidar com N.ª Sr.ª “dos quilos a mais”, não vá ela deixar-me apertadinho para os lados e depois já não poderei usar os modelitos da Roselyn Silva. Talvez um acordo com um ginásio que declare guerra aberta às demasias seja uma boa opção!
Cada um terá na sua lista mais secreta alguns pratos que não se podem perder sob pretexto algum. Este é um dos que fazem parte da minha lista mais recôndita.
Continuamos com Cogumelos Estufados com vinho da Madeira, a realçar o sabor e o gosto dos alimentos, regado com um molho de cogumelos e rebentos de coentros, sob fatias de Pão frito no fundo da tigela. Gostamos de sentir os sabores da terra.
Do prato principal, chega-nos um “Robalo ao Vapor” acompanhado por “Arroz de Bivalves com Coentros”. Saltando quase diretamente do mar para o tacho, onde os sabores puros e naturais são cozidos a vapor. Esqueça tudo o resto, porque aqui o calor do vapor, mantém todos os sabores naturais do mar, tornando o robalo único. No final é aromatizado com salicórnia e rebentos de coentros. Esta brisa de sabores do mar chega à mesa na companhia de Arroz de Bivalves.
O mar na sua mais saborosa e apetitosa expressão.
Vale mesmo a pena experimentar e desmontar em dose dupla! Mas o verdadeiro segredo está no Arroz de Bivalves, no qual se mesclam sabores intensos e gulosos, a deixar um bom sabor de boca, leve, apaladado, de sabor arrebatador para ficar a lamber os dedos. Oferece, naturalmente, todo o sabor do mar numa garfada!
Se for para devorar tudo com apetite, eu desmonto este arroz cremoso, saborosamente impregnado pelo próprio sabor dos bivalves, tal como o robalo que o acompanha. É divinal. Quebro todas as regras. Valha-me os garganeiros da “papa boa”!!!
Honra a confeção de qualquer arroz português feito com notas cítricas, fazendo esquecer qualquer queixume ou adversidade da vida.
Para harmonizar os sabores foi aconselhado pela Maria Miranda, “Vinho Duas Quintas” do Douro. Reserva 2016.
A refeição continua com a tentação das sobremesas, acompanhada por muito boas sugestões de harmonização com generosos, para completar a experiência gastronómica.
Para finalizar a refeição, um excelente pedido é a Farófia na Brasa, cuja preparação cuidadosa garante a suavidade dos sabores numa sobremesa deliciosa.
É uma mescla das claras, creme de laranja assada e creme de baunilha.
Só sei que entre os preparos há uma sobremesa de puro deleite. O interior das farófias é preenchido com o creme de laranja, depois de assada, que se deixa envolver por um creme de baunilha, a cobrir, saborosamente delicioso e que arrebata o palato. Leva ainda, nozes tostadas no forno e flores comestíveis no topo. Será difícil encontrar maior perfeição. Fofas, cremosas, saborosos e a decomporem-se na nossa boca, “desmontam-se” em doses duplas, no mínimo, que torna particularmente difícil parar de comer.
Se ainda houver espaço, também disponível a Torta de Cenoura, a exibir-se aos olhos de quem prefere um jogo de sabor entre legumes e doces. O deleite de quem a vai desmontar. Venha então um pouco, Eu desmonto sim a Torta de Cenoura, cheia de vitaminas e a gerar combinações maravilhosas: acompanha com ganache de chocolate branco, gengibre, hortelã e amêndoa torrada no forno.
Dois generosos para acompanhar a sobremesa: moscatel roxo de setúbal – José Maria da Fonseca e Um vinho do Porto Vintage 2012 Niepoort – LBV de 2012
Sofia Oliveira, escolheu o Niepoort, porque além de ser vintage, a textura de sabores é feita em casco de carvalho. Devido às castas e juntamente com os sabores da sobremesa acaba por ser um bom vintage.
As sobremesas apostam na provocação, misturando sabores, garantindo uma conjugação perfeita de sabores e o resultado é surpreendentemente bom, como nesta desconstrução das farófias. Imperdíveis. É a maneira certa de terminar uma bela “sentada”!
Chama-se “Casa de Pasto”. Lembro-me de ficar fascinado desde o primeiro dia com a excelência do serviço, a qualidade dos pratos, o acolhimento e um ambiente que, ao longo da noite, evolui, geralmente, para uma sentada/repasto de amigos.
A Casa de Pasto mantém as suas particularidades com esta renovação de ementa, com pratos adequados para a estação de outono/inverno, que harmoniza muito bem com vinhos, para quem prefere prolongar a noite.
Nunca encontrei listas consensuais. E o pior é que todas as degustações da Casa de Pasto são injustas. Entre estes pratos, petiscos e doces, muito embora sejam os melhores da ementa, sei que seguramente ficaram de fora outros tantos pratos “imperdíveis”, que me fazem a corte e que ainda não desmontei. É um restaurante de que tenho boas recordações, onde tenho vivido momentos únicos. Cada sentada/repasto tem a sua história, os seus sabores, os seus cheiros, a sua gargalhada, o seu momento único.
Junta-te também à mesa dos sabores para partilhar, às texturas e ao sabor caseiro.
Casa de Pasto, uma das moradas do momento para incluir na sua agenda:
Rua de São Paulo, 20, 1.º andar – Cais do Sodré, Lisboa.
Aberto de Segunda a Sábado ao almoço e jantar.
Contato: 963 739 979 – http://casadepasto.com
Detalhes: Espaço definido para fumadores.
Além do ambiente convidativo tem Wi-Fi grátis.
Créditos Fotográficos: Miguel Pais da Silva aka Miguel Silva.